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domingo, 7 de abril de 2024

Espanha: “Se houvesse assim tanta procura, os comboios noturnos seriam viáveis”


Apesar de um novo governo, o ministro espanhol dos Transportes não espera mudanças no empenho de Portugal relativamente à alta velocidade. Óscar Puente garante que os países ibéricos têm boas relações ferroviárias, em entrevista ao Dinheiro Vivo.

Óscar Puente nasceu em 1968 em Valladolid. É o ministro espanhol dos Transportes e da Mobilidade desde novembro do ano passado. Foi presidente da Câmara de Valladolid entre 2015 e junho de 2023. O antigo “alcalde” sabe da importância do comboio nas ligações transfronteiriças: Valladolid foi uma das estações do Sud Express até março de 2020, quando o serviço ferroviário entre Lisboa e Hendaye (na fronteira com França) foi suspenso unilateralmente pela Renfe, que alugava o material circulante. A empresa pública ferroviária espanhola também era a parceira da CP no comboio Lusitânia, entre Lisboa e Madrid, que partilhava o percurso com o Sud Express até Medina del Campo.

Quatro anos depois, Óscar Puente põe de parte o regresso das ligações ferroviárias noturnas entre os dois países, algo singular na atual realidade europeia, onde estão a ser recuperadas ou criados comboios noturnos. O ministro espanhol está mais focado nas ligações de alta velocidade, sobretudo com Vigo, e espera reunir-se em breve com o novo homólogo português, Miguel Pinto Luz. Apesar de o ministro ser do PSD, Óscar Puente não esperar mudanças no empenho português para a ferrovia.

Anunciou que iria falar com o homólogo francês sobre relações ferroviárias transfronteiriças à margem da cimeira de ministros dos Transportes em Bruxelas. Quando vai falar com as autoridades portuguesas?

Há muito pouco tempo tive uma reunião com o embaixador de Portugal em Espanha. Na semana passada, estive em Portugal para um encontro com o embaixador de Espanha em Portugal. Ficámos à espera da formação do novo governo português para marcarmos uma reunião.

O novo ministro das Infraestruturas é Miguel Pinto Luz, do PSD. Esperam alguma mudança na estratégia do lado português?

Espero que não haja mudanças. A relação com Portugal tem sido muito boa até agora. Por isso, sinto maior necessidade de falar com França porque é mais complicado. Portugal e Espanha têm muitos objetivos e projetos comuns.

A Renfe e a CP continuam a ser parceiras ferroviárias ou a Renfe vai passar a fazer sozinha os serviços com Portugal?

Temos de ver isso. Depende do nível de liberalização da rede ferroviária portuguesa. A Renfe é uma empresa que está a crescer a nível internacional e onde tem oportunidade de operar, assim o vai fazer.

Admite o regresso dos comboios noturnos caso haja financiamento público?

Os comboios noturnos têm dois problemas: perdem dinheiro, pelo que necessitam de um apoio público; a nível operacional, a manutenção da maior parte da rede ferroviária é feita durante a noite, tornando difícil conjugar esses trabalhos com a realização desses comboios. Acho que as pessoas que defendem os comboios noturnos fazem mais barulho do que realmente representam. Se houvesse assim tanta procura, então os comboios noturnos seriam viáveis e economicamente realizáveis. Só que não há procura suficiente.

Tem novidades da ligação de alta velocidade entre Porto e Vigo? Do lado português, a construção não deve ficar pronta antes de 2032.

Vamos ver se agora é dado um impulso nesse projeto. Há quatro importantes ligações transfronteiriças ferroviárias, para Vigo [via Porto], Salamanca [via Guarda], Badajoz [via Elvas] e Huelva [via Faro]. Esta última ainda não está no mapa do corredor Atlântico transeuropeu. Para mim, Portugal sempre teve maior interesse em fazer a ligação ferroviária com Espanha por Porto e Vigo. Portugal deve fazer um esforço nesse corredor. Em Espanha, estamos a trabalhar na saída sul de Vigo. Atempadamente, iremos fazer a nossa parte. Mas não me comprometo com prazos.


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